Presidente regional do Partido Verde, o ex-secretário de Meio Ambiente Eduardo Brandão, acredita que o atual governo merece uma segunda chance. Ele anuncia também, em entrevista exclusiva ao Jornal de Brasília, que o PV quer lançar candidatura majoritária ao Senado na chapa do governador Agnelo Queiroz (PT). Nesse sentido, Brandão não descarta lançar uma candidatura independente do Partido Verde, caso a vaga para a disputa ao Senado na chapa da reeleição PT=PMDB não seja destinada à sua legenda. Eduardo Brandão afirma que o principal compromisso da Secretaria do Meio Ambiente deve ser a qualidade de vida de todas as regiões administrativas do Distrito Federal, que foi inclusive o objetivo principal do Programa Brasília Cidade Parque, que pela primeira vez usa de forma intensiva a compensação ambiental para gerar recursos para o meio ambiente.
Quais os seus planos para as eleições deste ano?
Como na eleição anterior, temos um projeto partidário. Sou um homem de partido. Entendemos que é muito importante que tenhamos candidaturas majoritárias, pois são elas que marcam o discurso e a ideologia partidária. Internamente, nós defendemos que o ideal para a democracia é que cada partido, no primeiro turno, lancem seus candidatos, com suas ideias e suas propostas, pois daí os dois melhores iriam para o segundo turno para que a população pudesse escolher. Mas, infelizmente, por falta de nossa reforma política, existem esses projetos de coligações em que você tem de estar com outro partido, para ter a garantia mínima para se eleger. Historicamente, o PV sempre tem um candidato à majoritária. Então, no decorrer desses próximos dois meses, vamos estudar qual a melhor opção. Depois de três anos e três meses o partido continua representado no governo e existe um compromisso com o governador Agnelo.
Como estará representado o PV no âmbito nacional?
O PV está construindo uma candidatura majoritária nacional, do ex-deputado Eduardo Jorge, que é um ótimo quadro do partido, foi deputado constituinte, entre outros cargos que o fazem uma pessoa extremamente preparada. Por isso, é importante que tenhamos uma candidatura majoritária também no DF, para que tenhamos palanque para o nosso candidato. Não necessariamente governador ou vice-governador, mas de senador.
A ex-senadora Marina Silva deixou o PV para criar sua própria sigla. Qual a sua opinião?
Eu sempre a defendi muito e apoiei, de uma certa forma e dentro do meu limite, a própria criação da Rede Sustentabilidade, porque quanto mais correntes e forças políticas preocupadas com o processo de sustentabilidade houver, melhor será. Melhor do que ter forças contrárias às ideias do nosso partido. Existem muitas convergências tanto com o projeto da Marina como com a Rede e esperamos que ele cresça cada vez mais.
Caso a vaga ao Senado não seja do PV, há um Plano B?
O Plano B seria sair com que chamamos de “cabeça de camarão”. Lançamos candidato a deputado distrital, federal, Senado e não lançamos a governador e vice-governador. Para esses cargos, votamos em quem apoiarmos. Mas é lógico que essa discussão ainda vai se arrastar por algum tempo. Ainda será feita uma avaliação. Enquanto não forem realizadas as convenções partidárias, em junho, tudo pode mudar. Com candidato à presidência da República, como é o nosso caso, é necessária uma candidatura majoritária, para garantir um palanque com o nível e a qualidade que possa ter uma candidatura majoritária.
Existe a possibilidade de o PV lança-lo novamente a governador?
Há uma vontade nossa de não perder a chance de fazer uma discussão de nossas propostas na campanha majoritária. Até que as convenções decidam, todas as possibilidades existem. Nós não temos medo ou dificuldade de sair sozinhos. Mas estamos respeitando uma questão de ética e de lógica por termos participado do governo Agnelo. Não é por isso que estamos abdicando da possibilidade de lançarmos uma candidatura ao governo.
Qual a solução para as questões de infraestrutura do DF?
A questão da sustentabilidade é uma nova forma de produzir, uma nova forma de viver. Precisamos discutir a cidade com dados. Não podemos discuti-la no achismo. Não dá mais para trabalhar com o conceito antigo, até da própria formação de Brasília, onde tudo é muito espalhado e que hoje recebe, diariamente, seis vezes mais pessoas do que moram aqui. Por esse motivo, já se chegou a dizer que aqui eramos “cabeça, tronco e rodas”. As ações estruturais não são as respostas. As respostas estão em projetos inteligentes para as nossas cidades, para que se evite esse movimento pendular, em que viramos gado: solta a boiada para esse rumo. Agora solta para o rumo de lá. Não adianta fazer 500 vias de pistas, porque trabalhamos sempre com horário de pico e, por isso, sempre estará saturada. É necessário termos pistas, não digo que não, mas é muito mais necessário fazer um trabalho de inteligência nas nossas cidades, usando estudos para que o governo adote políticas de Estado que não se traduzam em mega-obras, mas em intervenções pontuais nas cidades para atender os anseios da nossa população.
Como descreve o Brasília Cidade Parque, que norteou sua gestão à frente do Meio Ambiente?
O Brasília Cidade Parque é um projeto de recuperar e implantar 72 parques em todas as regiões administrativas do Distrito Federal, que tem um grande diferencial que é o processo de financiamento, que funciona através de compensação ambiental, sem a utilização de recursos do orçamento. É o pagamento do impacto causado por construções ao meio ambiente, em que o empreendedor tem que investir na unidade de conservação mais próximas.
E o que a população já tem colhido desse programa?
Ele traz vivência para as pessoas e vai se somando ao que nós estamos falando. No feriado, tive a oportunidade de ir visitar pontos verdes, como o Parque Dom Bosco. Comecei a achar que o pessoal estava indo para a praia, com prancha de stand-up, barraca, etc. Depois fui lá para baixo vi todos aproveitando um sol maravilhoso à beira do lago, tendo contato direto com a água. Tenho certeza de que aquele cidadão que passou seu tempo aproveitando ali voltou para casa melhor e muito mais favorável a enfrentar a próxima semana. Mais do que aquele que passou seu tempo ligado a uma televisão ou no boteco enchendo a cara por falta do que fazer. Precisamos de espaços de lazer, de qualidade
de vida, saúde. Isso é meio ambiente.
O senhor acredita que se deveria mudar a estrutura da Secretaria de Meio Ambiente?
Nós já tivemos um passo enorme ao se recriar a Secretaria de Meio Ambiente, que foi fundamental, por parte do governador Agnelo Queiroz. Isso o mostra a importância que esse governo dá à questão. Agora, em um segundo momento, nos temos de mudar essa estrutura. Temos órgãos, como o Ibram, que diziam que não podiam atender as demandas. Então é melhor você não ter o órgão, porque a população está pagando por aquilo. Mudar isso foi difícil, pois todas as vezes em que eu ouvia alguém dando essa desculpa, eu ia atrás, conversava, me aborrecia. Nós conseguimos mudar isso, deixar de se perder muito tempo em processos que não tinham necessidade, como legalização de reservas ambientais ou alvarás para postosa, que hoje só precisam fazer um documento declaratório. Se alguém estiver fazendo errado, automaticamente estará condenado. O Estado é para servir o cidadão e não para atrapalhar.
Qual foi ou é o papel do PV no governo Agnelo?
Quando se pensa em PV se pensa logo em Secretaria do Meio Ambiente e acredito que estamos fazendo um grande trabalho, com relação às diversas áreas, como parques e recursos hídricos, colocando a pauta em um discussão maior, que antes não existia. Temos esse reconhecimento. Não nos interessavam cargos. Nós deixamos claro que queríamos desenvolver um projeto e não ter cargos e salários. O PV assumiu e mudou a situação do meio ambiente, da água para o vinho. Agora que a população julgue da forma que achar melhor e será nas urnas.
Qual a avaliação que o senhor faz do governo no período em que esteve à frente da Secretaria de Meio Ambiente?
Dizem que sempre se fala a mesma coisa, mas nós assumimos o governo numa situação diferente de qualquer local. Quando você tem uma eleição em que o governante está na cadeira, com a caneta na mão, ele vai tentar fazer o melhor que ele puder até o último dia para poder se reeleger ou eleger alguém indicado por ele, saindo com uma boa avaliação. Se ele perder ali em outubro, ele passa dois meses desanimado, então não fica arrumando ali para o próximo, o que é muito da nossa política. Então, quando o Agnelo assumiu ele pegou mais de um ano de governo desarrumado. A resposta de um governo normal vem ali no final do primeiro ano. No nosso governo, a resposta começou no final do segundo, porque levamos dois anos consertando um estrago profundo em Brasília. Além da intervenção, do processo moral e do episódio da Caixa de Pandora, todos que se sentaram na cadeira de governador e de técnicos, administradores regionais, estavam sabendo que estava ali para tapar buraco. Fizeram o que deu para fazer de melhor, e não para colocar fotografia na parede, para dizer que um dia teve um cargo no governo e, claro, não existia a menor possibilidade de em meses administrar um projeto do tamanho do Distrito Federal. Esse período foi muito ruim.
E o que melhorou?
Em áreas importantes o governo deu respostas muito boas, como nas áreas de infraestrutura, por exemplo. “Ah mas as obras eram de outro governo”, dizia-se. Não tem nada a ver, as obras eram de Brasília, não podiam ficar paradas. Todas as obras inacabadas foram executadas. Agora, outras estão começando a acontecer, na habitação, transporte, saúde.
Como o senhor avaliaria o governo?
Acho que ele teria estar de bom pra cima, muito pelo reflexo que as pessoas ainda não conseguiram ver. Elas começam a entender que melhorou, mas não cola, pois não é do estilo do governador usar pirotecnia. Ele é mais estrategista: vai mexendo no tabuleiro e é incansável. Este é um governo que merece uma segunda chance, ainda que as chances de continuidade sejam muito ruins.
Fonte:Suzano Almeida/Jornal de Brasília
Fotos: Josemar Gonçalves